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in Newsletter Março 2024

Análise de Dupla Materialidade 

A Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD) representa um marco significativo no relato de sustentabilidade para as empresas que operam na União Europeia. Ao expandir e detalhar os requisitos de divulgação da informação, a CSRD tem por objetivo endereçar lacunas críticas na transparência e prestação de contas das empresas em relação a questões ambientais, sociais e de governança (ESG).  

A importância da CSRD para as empresas reside em diversos aspetos. Em primeiro lugar, a Diretiva propõe um âmbito mais amplo do que a antiga Non-Financial Reporting Directive (NFRD), abrangendo um número maior de empresas, o que significa que mais organizações serão obrigadas a integrar considerações ESG nas suas estratégias e operações, promovendo uma abordagem mais holística na sustentabilidade. Além disto, através do reporte obrigatório baseado nos European Sustainability Reporting Standards (ESRS), a CSRD procura estabelecer padrões e requisitos comuns para a divulgação da informação, promovendo maior consistência, uniformidade e comparabilidade entre os relatórios de sustentabilidade das empresas.  

Esta padronização é essencial para facilitar a análise e avaliação por parte dos investidores, analistas, e outros stakeholders, permitindo uma melhor compreensão do desempenho das empresas em relação aos temas da sustentabilidade. Ao estabelecer padrões mais rigorosos de divulgação e garantir a precisão, uniformidade e confiabilidade das informações fornecidas através do uso dos ESRS, a Diretiva contribui para a construção de uma economia mais sustentável e resiliente, alinhada com os objetivos da Agenda 2030 e do Desenvolvimento Sustentável. 

A análise de Dupla Materialidade surge como um dos requisitos para o reporte da CSRD, prevista no ESRS 1 – Requisitos Gerais. É com base nesta análise, que avalia o impacto das atividades da empresa no ambiente e sociedade (perspetiva inside out) e o impacto financeiro das questões da sustentabilidade nos resultados financeiros (perspetiva outside in), que as empresas irão identificar os temas materiais sobre os quais devem reportar. Estes temas estão definidos nos tópicos e subtópicos abordados pelos diferentes ESRS. 

Face a este contexto  destacamos, nesta edição, o caso de três empresas do Observatório que já divulgaram as suas análises de dupla materialidade, como forma de inspirar outras empresas que estão no processo de realizar as suas próprias análises. 

CUF 

Em 2022, a CUF realizou uma revisão do seu exercício de materialidade, em conformidade com a CSRD. Usou, para tal, uma abordagem que considera tanto a materialidade do impacto, ou seja, a identificação dos temas ambientais e/ou sociais que a empresa pode impactar direta ou indiretamente (através da sua cadeia de valor), quanto a materialidade financeira, que envolve a identificação de temas materiais capazes de influenciar os resultados financeiros da empresa, gerando riscos ou oportunidades. 

De acordo com o Relatório Integrado 2022 da CUF, o processo de materialidade realizado seguiu uma metodologia de quatro etapas, que teve início com a análise de benchmark (primeira etapa), onde se identificaram as tendências de sustentabilidade no setor da saúde e da identificação dos temas materiais e stakeholders da organização. Estes temas foram submetidos à avaliação dos stakeholders durante a etapa seguinte, de auscultação (segunda etapa). Os temas foram, de seguida, validados por especialistas internos, na terceira etapa, antes de serem verificados e aprovados pela direção da CUF, de forma a obter-se o resultado final da matriz de materialidade (quarta etapa). 

Foram identificados 15 Tópicos Materiais, organizados nas vertentes ambiental, social e de governance, de acordo com o framework ESG. Estes temas foram alinhados com as Aspirações da Estratégia 21-25 da CUF e cruzados com os ODS e as suas respetivas metas, evidenciando o contributo da CUF para a Agenda 2030 num quadro que constitui a referência estratégica da empresa e o seu guia para o desenvolvimento sustentável.  

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Fonte: Relatório Integrado 2022, CUF, página 33 

 

The Navigator Company 

Em 2022, a Navigator conduziu uma análise de dupla materialidade, tendo como ponto de partida a análise de materialidade realizada anteriormente. De acordo com o Relatório de Sustentabilidade 2022, o processo de análise de dupla materialidade da Navigator foi conduzido em quatro etapas: 

  1. Identificação de informação, através da consulta e análise de documentos internos e externos que permitiram mapear tendências e identificar desafios no setor; 

  2. Envolvimento de especialistas para realização da materialidade de impacto, através da identificação e avaliação dos impactos das atividades da Navigator nos diferentes temas de sustentabilidade, e posterior avaliação por especialistas internos e externos; e a realização da materialidade financeira, através da identificação e avaliação dos riscos e oportunidades que os diferentes temas de sustentabilidade podem colocar à capacidade de geração de valor da empresa, realizada pela equipa de Diretores; 

  3. Análise e priorização dos resultados, realizada através de uma reflexão conjunta da Direção de Sustentabilidade e de uma equipa externa com objetivo de priorizar os temas identificados; 

  4. Validação pela Comissão Executiva, que analisou a lista de tópicos para decidir quais os mais relevantes para a estratégia da empresa. 

Os resultados das duas análises referidas – materialidade de impacto e materialidade financeira – foram cruzados em formato de matriz, dando origem a uma lista de tópicos que foi validada pela Comissão Executiva à luz das prioridades estratégicas da empresa em matéria ESG.  

Os tópicos, identificados como Estratégicos ou Relevantes, foram organizados nos dois grandes eixos operacionais da Navigator, “Pela Sociedade” e “Pelo Clima e Natureza”. Por fim, a Agenda 2030 da Navigator, que apresenta os compromissos da empresa e reflete o seu posicionamento estratégico, foi ajustada para espelhar esta reflexão. O contributo da empresa para ODS está incorporado nesta Agenda, que identifica os ODS core para empresa e as respetivas metas para os quais contribui através do desenvolvimento das suas atividades.   

Grupo Mota-Engil 

O Grupo Mota-Engil também realizou o exercício da dupla materialidade em quatro etapas: 

  1. Análise de contexto, através do mapeamento de tendências e tópicos de sustentabilidade que refletem impactos reais e potenciais da empresa;  

  2. Mapeamento e envolvimento de stakeholders, que, através de workshops, entrevistas e questionários, validaram a lista de tópicos de sustentabilidade identificados na primeira etapa, numa perspetiva de dentro para fora (avaliação dos impactos das atividades empresariais na economia, no ambiente e nas pessoas) e de fora para dentro (priorização dos tópicos que mais impactam a capacidade da Mota-Engil gerar valor); 

  3. Elaboração da matriz de materialidade; 

  4. Validação e aprovação final dos tópicos pelo CEO e pelo Presidente do Conselho de Administração. Foram selecionados 18 tópicos materiais. 

Os resultados deste exercício de dupla materialidade constituem uma base sólida para a revisitação e alinhamento estratégico da Mota-Engil para os próximos anos, além da definição de novos objetivos. É neste plano estratégico que a Mota-Engil assume o seu compromisso com a Agenda 2030, através do mapeamento dos ODS que cruzam com os seus objetivos estratégicos.  

Estes casos ilustram de forma prática como empresas de diferentes setores estão a realizar a sua análise de dupla materialidade e a identificar e selecionar os temas materiais para a sua estratégia e operações. Estes temas serão posteriormente reportados através dos ESRS, contribuindo de forma abrangente para o avanço do Desenvolvimento Sustentável através da articulação e reporte dos diferentes tópicos da sustentabilidade com os ODS dentro das organizações.  

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in Newsletter Fevereiro 2024

Lançado em 2016 e agora na sua sexta edição, o Protechting é um programa de inovação aberta promovido pela Fábrica de Startups e liderado conjuntamente pela Fidelidade, Hospital da Luz Learning Health e Fosun.

  

O objetivo do programa, que conecta startups com parceiros, é promover a inovação em três vertentes:  

 

- Healthtechs, através do desenvolvimento de produtos e serviços de saúde utilizando tecnologia;  

 

- Insurtech, através de nova tecnologia de seguros projetada para melhorar a experiência do cliente; 

 

- Beyond insurance and tech-enablers, através do desenvolvimento de ferramentas, plataformas ou tecnologias inovadoras que facilitem e impulsionem a transformação digital, melhorando a eficiência, produtividade e experiência do cliente.

  

A sustentabilidade está no cerne do Protechting, sendo transversal às três vertentes do programa e integrada em todas as soluções que dele surgem . Uma vez que a inovação aberta pressupõe o estabelecimento de parcerias e a colaboração para a construção de novas soluções de forma mais assertiva, completa e com menor custo, o programa disponibiliza mentores - profissionais experientes dos setores de seguros e saúde - e empreendedores, investidores e especialistas para fornecer orientação, insights e feedback às startups.  

 

Até hoje, em todas as edições, o Protechting contribuiu para o desenvolvimento de mais de 40 projetos-piloto e cinco acordos comerciais sendo, assim, uma oportunidade win-win para as startups e para as empresas promotoras do programa. Para as startups, configura-se como uma oportunidade de refinar o seu modelo de negócios, desenvolver o seu produto e expandir.  

 

Para as empresas, é uma oportunidade de aliar a tecnologia aos negócios, permitindo reduzir custos e criar modelos de negócios mais ajustados às necessidades dos seus clientes, beneficiando do dinamismo e da velocidade inerente às startups.  

 

Na atual edição, na área de Insurtech, estão a procurar-se soluções que melhorem a experiência do cliente em Seguros Gerais, Property and Home Living (habitacional), Cibersegurança, Futuro da Mobilidade, o Poder da Tecnologia e ainda o espaço “Beyond Insurance”. Na área de Healthtech, procuram-se soluções para melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas, de forma segura, com a adoção de tecnologias para o cuidado, diagnóstico e tratamentos. 

 

Alguns dos participantes do cohort 2023 foram a Glooma, que desenvolveu o SenseGlove, um "dispositivo médico de rastreio, doméstico e portátil, que complementa o autoexame mamário convencional e está conectado a uma aplicação móvel", com o objetivo de "simplificar a interpretação dos resultados e levar as mulheres ao médico o mais cedo possível". E ainda a Balvia, que está a desenvolver "um ecossistema tecnológico inovador para facilitar o gerenciamento de medicamentos e melhorar a comunicação entre pacientes e cuidadores" com uma "solução especialmente projetada para atender às necessidades de indivíduos que requerem apoio na gestão de medicamentos". 

 

A Fidelidade, Hospital da Luz Learning Health e Fosun, através do Protechting, desempenham um papel fundamental no avanço dos ODS 3 - Saúde de Qualidade, 9 - Inovação, Infraestrutura e Indústria, e 17 - Parcerias para a Implementação dos Objetivos. O programa visa alcançar metas específicas, como aumentar o acesso a serviços de saúde de qualidade (meta 3.8), fortalecer a pesquisa e inovação (meta 9.5) e promover parcerias público-privadas para o desenvolvimento sustentável (meta 17.17).  

 

Por meio de iniciativas colaborativas e abertas, o Protechting está a impulsiona a inovação tecnológica, melhorando o acesso aos cuidados de saúde e promovendo o crescimento económico, alinhando-se com as metas globais de Desenvolvimento Sustentável da ONU. 

 

 

Fontes:  

https://www.protechting.pt/   

 

https://executivedigest.sapo.pt/noticias/fidelidade-fosun-e-hospital-da-luz-anuncia-programa-internacional-para-a-inovacao-com-foco-na-sustentabilidade/ 

 

https://eco.sapo.pt/2018/10/19/5-startups-que-estao-a-revolucionar-o-setor-dos-seguros/ 

 

https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/fidelidade-luz-saude-e-fosun-lancam-6a-edicao-do-protechting/ 

 

https://hrportugal.sapo.pt/fidelidade-lanca-programa-para-apoiar-o-crescimento-de-startups-inovadoras-nos-sectores-healthech-e-insurtech/ 

 

https://www.linkedin.com/pulse/por-que-fazer-inova%C3%A7%C3%A3o-aberta-na-sa%C3%BAde-%C3%A9-mais-do-ivisen-lourenco/?originalSubdomain=pt 

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in Newsletter Janeiro 2024

Fundada no ano de 1961, a Belcinto é uma PME de caráter familiar que se dedica à produção de artigos em pele e marroquinaria como cintos, malas, sacos de viagem e carteiras. Inicialmente circunscrita ao âmbito nacional, é hoje fortemente focada na exportação, que representa 98% do seu volume de negócios, inserindo-se na gama média alta e de luxo. Contudo, a Belcinto não é apenas um caso de sucesso entre as PMEs – é também um caso de empresa consciente do seu papel e do seu impacto no planeta, ao assumir um olhar responsável para a sua aquisição de produtos e métodos de produção. 

 

Em 2021, a Belcinto lançou o projeto “Leather Goods by Belcinto”, que produz peças a partir dos recortes sobrantes de matérias-primas advenientes de outras coleções, sem criar “sobras” no procedimento. A Leather Goods tem assim o seu propósito na economia circular, numa ótica de slow fashion, que se distingue pela produção de poucos e únicos artigos de alta qualidade e durabilidade o que, como refere Ana Maria Vasconcelos, General Manager da empresa, resulta “numa linha original, com as raízes plantadas no que fizemos antes”. O projeto foi, em 2022, vencedor do Prémio Europeu de Sustentabilidade para PME, SME EnterPRIZE, lançado pela Tranquilidade e Grupo Generali.

 

A “Leather Goods by Belcinto” desafia a criatividade no design dos produtos, e gera peças únicas e duradouras, independente das modas, uma boa-prática desta empresa portuguesa que une a criação de valor económico para o negócio com o caminho para a sustentabilidade do planeta. Ao alinhar a sua inovação, criatividade e produção circular, a Belcinto contribui assim para a prossecução da Agenda 2030 nos ODS 9 – Indústria, Inovação e Infrastruturas, contribuindo de forma positiva para a meta 9.4 (Até 2030, modernizar as infraestruturas e reabilitar as indústrias para torná-las sustentáveis, com maior eficiência no uso de recursos e maior adoção de tecnologias e processos industriais limpos e ambientalmente corretos; com todos os países atuando de acordo com as suas respetivas capacidades.) e ODS 12 Produção e Consumo Sustentáveis, especificamente a meta 12.5, que tem por objetivo, até 2030, reduzir substancialmente a produção de resíduos através da prevenção, redução, reciclagem e reutilização. 

 

Esta boa prática serve de inspiração a todas as PMEs e Grandes Empresas que pretendam alavancar o seu impacto ambiental positivo no reaproveitamento das suas matérias-primas em novos e inovadores processos, produtos e mercados.

in Newsletter de Dezembro 2022

Os processos de integração dos ODS na estratégia empresarial referem-se a todos os processos de seleção dos ODS estratégicos para a empresa, envolvimento de stakeholders, análise de materialidade, escolha dos ODS de acordo com o contexto empresarial e sua cadeia de valor, entre outros. Referem-se, essencialmente, às práticas que espelham um “processo” em que os ODS foram integrados no core business ou na definição da estratégia da empresa e que são considerados bons exemplos de operacionalização.
 

A estratégia da Galp assenta no desenvolvimento de soluções energéticas eficientes e sustentáveis, alinhadas com a sua ambição de alcançar a neutralidade carbónica em 2050. A empresa realiza uma análise abrangente da materialidade, priorizando os temas de sustentabilidade numa dupla perspetiva: o impacto das suas atividades na economia, no ambiente e na sociedade, e o impacto dos temas da sustentabilidade na estratégia, no desempenho e na posição da Galp. Ambas as perspetivas contribuem para identificar os aspetos que devem ser endereçados pela empresa na sua estratégia de sustentabilidade.

A análise de materialidade desenvolvida pela Galp inclui quatro etapas principais: 1. Identificar temas e tópicos relevantes; 2. Determinar a sua relevância através de consulta aos stakeholders; 3. Determinar o impacto, através de avaliação interna com o top management, de forma a assegurar alinhamento dos temas materiais com os valores, compromissos e políticas da empresa; 4. Validar os temas, priorizados de acordo com a sua relevância e impacto. Desta análise, resultam os aspetos materiais chave para a estratégia da Galp.

No que diz respeito à avaliação de impacto, a Galp analisa de que forma a sua estratégia e atividades contribuem para o avanço dos ODS. A empresa mapeou os ODS em 3 níveis: materiais, diretos e indiretos, sendo os materiais aqueles diretamente associados à sua atividade core e para os quais tem mais  capacidade de contribuir. 

 

A Galp compromete-se a alcançar os seus objetivos estratégicos de forma ética e responsável. A sua atuação centra-se essencialmente em quatro pilares: 1. Reduzir as emissões de carbono; 2. Colocar as Pessoas no centro com um propósito comum; 3. Reduzir a pegada ecológica; e 4. Desenvolver um negócio consciente. No seu relatório integrado, a Galp apresenta os objetivos, o progresso e aspeto material associado à cada um dos quatro pilares. Para cada pilar, identifica também o alinhamento com os ODS ao nível das metas, como pode ser visto na Figura 1. A empresa apresenta ainda no seu Relatório Integrado iniciativas e projetos que realiza em cada um dos pilares, com o objetivo  de exemplificar a forma como está a contribuir para o progresso dos ODS associados.

Esta prática de avaliação de impacto das atividades empresariais associada aos ODS, a classificação dos mesmos em diferentes níveis e a sua associação aos objetivos e pilares estratégicos da empresa, constituem uma boa prática de processos. Garante que a empresa alinha, estrutura e executa as atividades tendo em consideração a sua contribuição para a Agenda 2030, procurando contribuir para o avanço da mesma e do desenvolvimento sustentável.

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